Conflitos no campo: uma realidade nada distante

O Folhetim - Imprensa Livre
3 min readOct 28, 2020

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Por: Frente Antifascista de Itapetininga

Outubro começou com mais uma ofensiva dos latifundiários para cima dos movimentos sociais e camponeses. Além dos crimes cometidos contra toda a humanidade, no tocante às queimadas e incêndios criminosos realizados no pantanal e na floresta amazônica, os pistoleiros armados pagos pelo Estado, mas que ainda servem à facções políticas e familiares, da Polícia Militar de Rondônia, despejaram de maneira brutal cerca de 600 famílias do Acampamento Thiago do Santos, em uma ação que contou com um efetivo de 300 capangas e até mesmo um helicóptero, contra as famílias camponesas. Com ordens diretas de nosso presidente, os policiais, autorizados em vídeo a “matar todos os sem terra”, além de destruírem as plantações e moradias, também roubaram dinheiro, pertences pessoais e ferramentas de trabalho.

Tal ação fora apoiada publicamente tanto pela grande mídia, com sua habitual parcialidade no acobertamento dos fatos, como explicitamente pelo nosso Excelentíssimo em redes sociais. Entretanto, nosso presidente foi além, e utilizou-se de tais acontecimentos envolvendo a Liga dos Camponeses Pobres, numa generalização dos movimentos sociais camponeses. Evidentemente é de interesse das classes dominantes que haja uma confusão nas classes médias e baixas dos centros urbanizados acerca dos diversos níveis de radicalidades, ideologias e táticas utilizadas na luta no campo, assim como seus objetivos almejados.

Em Itapetininga, encontramos tanto assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) como da Frente Nacional de Lutas Campo e Cidade (FNL). Tais movimentos diferem das Ligas Camponesas no tocante a questão tática e entre si nas questões ideológicas. Mas ambos os três tem uma semelhança: são considerados inimigos e alvos das classes dominantes, em âmbitos nacional, estadual e municipal.

Numa ofensiva, que parece vir em momento oportuno, com a criminalização proposta desde a campanha de governo de Jair Bolsonaro e que vem se evidenciando cada vez mais, sendo o fato aqui relatado um exemplo disso, o assentamento 23 de Maio do MST, localizado no distrito do Tupy, que mesmo estando em situação legal, reconhecido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), recebeu documento pedindo a reintegração de posse das terras onde centenas de famílias trabalham, produzem e vivem há anos.

É necessário dar ênfase as características dessa medida judicial de cunho explicitamente político e de intimidação: com o assentamento regularizado pelo Incra, é de supor que os antigos proprietários das terras já foram indenizados. Sendo assim, demonstra o tamanho mau-caratismo de tais oligarcas: ignorando o fato dos assentados ali produzirem e fornecerem alimentos para as escolas da rede municipal de educação de Itapetininga, comercializarem-nos nas feiras livres de dias de semana e fins de semana e até mesmo enviando remessas para o banco de alimentos da cidade de Mauá, localizada na grande São Paulo.

Efetivos da Polícia Militar do Estado de São Paulo, em uma ação que mais se assemelha a de jagunços, foram até o local do assentamento durante a semana, intimar as lideranças. Ignoram que tais assentados são trabalhadores que possuem famílias, como a si mesmos. Por intermédio de político conhecido dos assentados e dos policiais ali presentes, a situação fora tranquilizada. Entretanto, o caso persiste nos tribunais.

Outro exemplo de violência contra as lutas por moradia no Brasil, se passa em Piracicaba, onde a Comunidade Renascer, uma ocupação urbana com mais de 400 famílias, sendo a maior no interior de São Paulo, vive constante ameaças e é alvo de despejo em plena pandemia.

A Frente Antifascista de Itapetininga vem através desse panfleto reafirmar nossa solidariedade aos companheiros do assentamento 23 de Maio, assim como a todos aqueles que lutam contra as classes dominantes que controlam o Estado e suas instituições. Que permaneçamos firmes de nossas convicções perante as adversidades e em busca de uma sociedade mais justa, igualitária e livre das ingerências de potências externas, onde o trabalhador possa ter o controle das terras, dos meios de produção e também do próprio aparato Estatal, onde a economia sirva aos homens e não o contrário.

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